22 fevereiro 2007

Livro indica números da violência no Brasil e aponta soluções

publicado no UOL online de 21 de fevereiro

A violência de caráter endêmico, implantada em um sistema de relações assimétricas, não é um fenômeno novo --dá continuidade a uma longa tradição de práticas de autoritarismo.
Divulgação
Livro apresenta os patamares da violência urbana no Brasil
"Violência Urbana", da coleção "Folha Explica", apresenta não só os patamares da violência urbana no Brasil, mas o contexto maior em que ela se apresenta e indica os caminhos para sua superação.
O livro é assinado por Paulo Sérgio Pinheiro, que foi considerado pela ONU especialista independente para violência contra a criança e ex-secretário de Estado dos Direitos Humanos, e Guilherme Assis de Almeida, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência, da USP.
Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.
De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar, principalmente se estiver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro e não se esqueça de levar o som consigo. De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja --entregue tudo.
É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações. Faz tempo que a idéia de integrar uma comunidade e sentir-se confiante e seguro por ser parte de um coletivo deixou de ser um sentimento comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe. O outro deixa de ser visto como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é encarado como ameaça. O sentimento de insegurança transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, participação coletiva, as moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do horror, do pânico e do medo.A violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa vidas --especialmente as dos jovens e dos mais pobres--, dilacera famílias, modificando nossas existências dramaticamente para pior.
De potenciais cidadãos, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse quadro de insegurança e pânico, denunciado diariamente pelos jornais e alardeado pela mídia eletrônica? Qual tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado de direito?Hoje, a violência urbana não é uma preocupação exclusivamente brasileira, mas sim um tema que ocupa a vida pública de diversas outras sociedades, tanto nos países pobres como nos desenvolvidos.
Na última eleição presidencial da França, em 2002, por exemplo, o tema contribuiu para levar ao segundo turno o candidato de extrema direita Jean-Marie Le Pen --afinal derrotado por Jacques Chirac, graças à mobilização de todas as forças democráticas.
Nas páginas a seguir, não pretendemos oferecer respostas fáceis, nem imediatistas, pela simples razão de que não existem soluções mágicas, após décadas de atitudes negligentes e ineficazes da parte das autoridades públicas brasileiras, sobretudo no âmbito dos estados e das grandes cidades. Tal quadro possibilitou ao crime organizado impor seu terror, instalando-se nas comunidades populares e transformando-as em enclaves do não-estado de direito, muitas vezes graças à omissão ou até conivência das autoridades, tanto na ditadura como na democracia. O que fazemos aqui é mostrar a situação atual desse tema imprescindível e complexo, com referência especial ao Brasil.
Para tanto, o livro foi dividido em três capítulos: 1. "O Que É a Violência?"; 2. "Violência Urbana e Brasileira"; e 3. "Perspectivas de Superação". O primeiro capítulo discute as definições mais amplas e atuais de "violência". O segundo situa a violência urbana no contexto das grandes cidades brasileiras, mostrando seus principais agentes e vítimas. O terceiro fala das estratégias e lutas para conter, minimizar e, se possível, superar as tragédias causadas pela violência urbana.
No final, há uma bibliografia básica e indicações de sites para ajudar o leitor a aprofundar-se nessa questão imprescindível à sobrevivência da cidadania e ao fortalecimento de uma vida pacífica em sociedade