* matéria publicada pela Agencia Estado em 2 /03/08
Toca o telefone da central do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de São Paulo. Uma voz fininha pede: "Manda uma ambulância aqui. Uma menina quebrou a perna." Do lado de cá da linha, a atendente pergunta o endereço da ocorrência e - prevendo do que se trata a ligação - a idade de quem liga. "Tenho 32 anos", responde, esganiçada. "E em que ano a senhora nasceu?" Antes de a criança bater o telefone no gancho, a resposta vem em um sonoro palavrão.
A reportagem acompanhou a rotina da central telefônica do Samu e constatou o que dizem as estatísticas: os trotes se tornaram uma praga nos serviços de emergência da capital. Em 30 minutos, foram mais de dez trotes. "Fora aqueles elaborados, que podemos ter deixado passar", lembra o coordenador de Regulação Médica do Samu, o médico Domingos Guilherme Napoli. "Só vamos descobrir esses quando a ambulância chegar ao destino."
As brincadeiras pelos números de emergência - do Samu (192), Polícia Militar (190) e Bombeiros (193) - congestionam as linhas e obrigam os atendentes a gastar minutos preciosos. Chegam a representar até 40% das ligações recebidas. O chefe do Centro de Operações da PM (Copom), major Wilson de Oliveira Leite, lamenta: "Quando alguém precisa de auxílio, um minuto faz toda a diferença." As troças são tantas que prejudicam o atendimento. "Corremos o risco de deixar de acreditar em uma ocorrência de verdade."
A missão da soldado da PM Marisa Leal é atender o chamado de quem passa apuros com a violência na cidade, mas dezenas de minutos de trabalho são perdidos diariamente com trotes. "É uma ligação e um trote", conta a atendente. "As brincadeiras atrapalham muito." Com oito anos de experiência na função, Marisa redobra os cuidados quando do outro lado da linha vem uma voz infantil. "Indago detalhes e presto atenção à entonação da voz."
Trotes em números
O Copom recebe em média 35 mil chamados por dia - 5 mil são urgências policiais, mas outros 7 mil, ou seja, 20% do total, não passam de trotes. Leite fala por experiência própria: "Voz de criança no telefone é fatal: é trote", diz. "Elas tomam o tempo do atendente e impedem o acesso de quem precisa."
O Samu atendeu, em janeiro, 29 mil emergências, contra 43 mil trotes de um total de 151 mil chamadas. A média diária é de 5 mil ligações e 1,4 mil trotes, que representam 28% do total. E, em 83% dos casos, são crianças que dispararam as brincadeiras de mau gosto. "A rotina é o trote", conta a atendente Kátia Martins Gonçalves, de 24 anos, há um ano e quatro meses no Samu. "A ocorrência acaba sendo exceção."
De acordo com cálculos do Samu, cada saída de ambulância de suporte avançado custa, em média, R$ 2.300 e as de suporte básico, R$ 1.100. Para Napoli, que participou da criação do serviço de urgência médica em São Paulo há 21 anos, o volume de trotes traz frustração. "Sou médico. Meu lema é salvar vidas", diz. "Sinto-me frustrado, chateado e triste por ver pessoas indo contra nossos esforços para salvar vidas."
No Centro de Operações do Corpo de Bombeiros da capital (Cobom), o sentimento não muda. O chefe do Cobom, capitão Max Mena, afirma que as brincadeiras impactam o trabalho da equipe. "Os atendentes são orientados a desligar o mais rápido possível quando percebem ser um trote", diz. Segundo Mena, 90% das chamadas são atendidas em 10 segundos. "Mas um segundo a mais é muito para quem precisa de ajuda."
Diariamente, os Bombeiros prestam auxílio em 400 ocorrências de incêndios, salvamentos e resgates e recebem 2.400 ligações zombeteiras, de um total de 6 mil chamadas em média. Ou seja, 40% das ligações são trotes.
A reportagem acompanhou a rotina da central telefônica do Samu e constatou o que dizem as estatísticas: os trotes se tornaram uma praga nos serviços de emergência da capital. Em 30 minutos, foram mais de dez trotes. "Fora aqueles elaborados, que podemos ter deixado passar", lembra o coordenador de Regulação Médica do Samu, o médico Domingos Guilherme Napoli. "Só vamos descobrir esses quando a ambulância chegar ao destino."
As brincadeiras pelos números de emergência - do Samu (192), Polícia Militar (190) e Bombeiros (193) - congestionam as linhas e obrigam os atendentes a gastar minutos preciosos. Chegam a representar até 40% das ligações recebidas. O chefe do Centro de Operações da PM (Copom), major Wilson de Oliveira Leite, lamenta: "Quando alguém precisa de auxílio, um minuto faz toda a diferença." As troças são tantas que prejudicam o atendimento. "Corremos o risco de deixar de acreditar em uma ocorrência de verdade."
A missão da soldado da PM Marisa Leal é atender o chamado de quem passa apuros com a violência na cidade, mas dezenas de minutos de trabalho são perdidos diariamente com trotes. "É uma ligação e um trote", conta a atendente. "As brincadeiras atrapalham muito." Com oito anos de experiência na função, Marisa redobra os cuidados quando do outro lado da linha vem uma voz infantil. "Indago detalhes e presto atenção à entonação da voz."
Trotes em números
O Copom recebe em média 35 mil chamados por dia - 5 mil são urgências policiais, mas outros 7 mil, ou seja, 20% do total, não passam de trotes. Leite fala por experiência própria: "Voz de criança no telefone é fatal: é trote", diz. "Elas tomam o tempo do atendente e impedem o acesso de quem precisa."
O Samu atendeu, em janeiro, 29 mil emergências, contra 43 mil trotes de um total de 151 mil chamadas. A média diária é de 5 mil ligações e 1,4 mil trotes, que representam 28% do total. E, em 83% dos casos, são crianças que dispararam as brincadeiras de mau gosto. "A rotina é o trote", conta a atendente Kátia Martins Gonçalves, de 24 anos, há um ano e quatro meses no Samu. "A ocorrência acaba sendo exceção."
De acordo com cálculos do Samu, cada saída de ambulância de suporte avançado custa, em média, R$ 2.300 e as de suporte básico, R$ 1.100. Para Napoli, que participou da criação do serviço de urgência médica em São Paulo há 21 anos, o volume de trotes traz frustração. "Sou médico. Meu lema é salvar vidas", diz. "Sinto-me frustrado, chateado e triste por ver pessoas indo contra nossos esforços para salvar vidas."
No Centro de Operações do Corpo de Bombeiros da capital (Cobom), o sentimento não muda. O chefe do Cobom, capitão Max Mena, afirma que as brincadeiras impactam o trabalho da equipe. "Os atendentes são orientados a desligar o mais rápido possível quando percebem ser um trote", diz. Segundo Mena, 90% das chamadas são atendidas em 10 segundos. "Mas um segundo a mais é muito para quem precisa de ajuda."
Diariamente, os Bombeiros prestam auxílio em 400 ocorrências de incêndios, salvamentos e resgates e recebem 2.400 ligações zombeteiras, de um total de 6 mil chamadas em média. Ou seja, 40% das ligações são trotes.