09 maio 2008

“Eu sou o Pioneiro.”

matéria publicada em 9 de maio de 2008 no site MORUMBI.NET

O primeiro contato nos revela um homem simples, sem qualquer sintoma da “síndrome” que, segundo ele, ataca boa parte de quem mora no Morumbi: a valorização excessiva das aparências. Aliás, nem poderia ser diferente. Como policial aposentado, formado na chamada “velha guarda”, Alcides Paranhos Jr – ou o Paranhos do Portal, como é mais conhecido por aqui – aprendeu que as palavras sabias de um dos “símbolos” daquilo que o regime militar combatia não deixam de estar certas: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”.
Essa ternura de um homem formado na dureza e na adversidade da carreira policial Paranhos decidiu dedicar em boa parte ao bairro onde mora: o Morumbi. Desde a década de 70, o então policial fez muito mais do que assistir ao nascimento daquele que é hoje o bairro que mais cresce em São Paulo. Ele mesmo fez o parto, com suas próprias mãos.
Quando a região conhecida hoje como Portal do Morumbi era apenas um condomínio cercado de mato por todos os lados, Paranhos conseguiu a implantação de um ponto de táxi do outro lado do Shopping Portal. Não existindo comunicação na época, passou uma linha telefônica direta, ligando o ponto de táxi ao condomínio. Para suprir a falta de atendimento em casos de emergência à população pobre da região, Paranhos disponibilizou um veiculo do condomínio Portal do Morumbi para o atendimento a doentes, parturientes e acidentados. Além disso, organizou a proteção para as empregadas diaristas, que freqüentemente eram assaltadas no trajeto do condomínio até suas casas.
Junto ao comando da PM, Paranhos conseguiu um posto policial para a região, que era totalmente desprovida de policiamento e tinha assaltos quase diários. Com a ajuda de beneméritos, como o Dr Eduardo Passarelli, e de alguns comerciantes e condomínios do bairro implantou a base em tempo recorde.
Mais recentemente, Paranhos, concretizou o sonho de implantar no bairro a ronda policial com bicicletas. Após um ano de espera e muita insistência junto às autoridades responsáveis, formou um grupo de empresas - Pão de Açúcar, Banco Real e AMIR - que, junto com o Portal do Morumbi, adquiriu um lote de 10 bicicletas que foi doado ao comando do Posto Policial do Portal, liderado pelo Sargento Marcos, e hoje fazem o patrulhamento de áreas da Vila Suzana, Jardim Londrina, Vila Suzana, Morro Verde, Jardim Caboré, Jardim Taboão, Vila Praia, etc.
E não é apenas na área de “realizações” que Paranhos pode ser encarado como um pioneiro. O homem de hábitos simples e conversa agradável é pioneiro também no prestígio ao comércio do bairro. Faz questão de caminhar por ruas como Dr. Guilherme Dumont Villares, Luiz Migliano, Prof. José Horácio Meirelles Teixeira e Mal. Hastimphilo de Moura para comprar o seu jornal, tomar o seu café na padaria e conversar com amigos de mais de 30 anos de convívio. Quando vai às compras, visita sempre e preferencialmente as lojas das ruas do bairro e de shoppings como Portal, Trade Center e Open Center.
Mas engana-se quem pensa que esse jovem senhor, forte e extremamente lúcido, esteja “acomodado” em sua condição de aposentado. Alcides Paranhos vive uma vida simples mas de intenso trabalho. Há muitos anos, decidiu criar uma empresa de consultoria de segurança.
Ao se dar conta de que, depois de um dia inteiro de trabalho como policial, tinha se tornado um hábito trabalhar em casa até altas horas da noite para amigos que lhe pediam conselhos, orientações e implantações de projetos na área de segurança, ele decidiu seguir o conselho de sua mulher - Valderene, mãe de seus três filhos - e criou o embrião daquilo que é hoje a Pro Security, uma empresa que emprega mais de 2.000 colaboradores, prestando serviços de segurança, limpeza, portaria e treinamento.
O foco da empresa é o bem estar das pessoas que vivem em condomínios. Isso Paranhos traz desde 1.979, época desde a qual é diretor de segurança do Portal do Morumbi. No início de sua gestão, fez “uma limpeza” no condomínio. A população jovem, principalmente filhos de estrangeiros, que eram transferidos para São Paulo como altos executivos de empresas multinacionais, havia se tornado presa fácil para bandidos e traficantes devido à sua condição social, e Paranhos resolveu agir.
O então policial lembra, com a certeza de ter feito a coisa certa, do trabalho de investigação minucioso e sigiloso que envolveu até a inserção de jovens policiais de alto gabarito, poliglotas, disfarçados no dia-a-dia do condomínio. “Nós descobrimos tudo: quem comprava, quem vendia, quem deixava entrar. Expulsamos vários traficantes, falamos com as famílias dos envolvidos, e muitos jovens foram mandados de volta para o país de origem ou foram morar na casa da vó!” O resultado, segundo Paranhos foi extremamente positivo: “O Portal ficou limpo. E está limpo até hoje. Quem pensa em fazer besteira sabe que lá não tem lugar pra isso. Sabe que lá o bicho pega”.
Hoje, cada área da Pró Security é gerenciada por um de seus filhos, Alexandre, Fábio, Lígia e sua mulher, Valderene. Lá também trabalham dois sobrinhos. “Mas a palavra final é sempre minha”, garante Paranhos. Palavra de Pioneiro!