(Matéria publicada na VEJA SÃO PAULO)
Na semana seguinte àquela em que dois condomínios sofreram arrastões de bandidos, testamos a segurança de quarenta edifícios em diversos bairros paulistanos. O resultado é preocupante: 65% deles escancararam seus portões sem nenhuma cerimônia
Por Fabio Brisolla
Diante de um prédio equipado com cabine de segurança, câmeras voltadas para os acessos principais e luzes acionadas por sensores de movimento, parece improvável a entrada de uma pessoa não autorizada. Não é bem assim. A bordo de um veículo de luxo cedido pela revista Quatro Rodas, da Editora Abril, rodei 166 quilômetros por sete bairros da cidade, nas noites de segunda (12) e terça (13). De quarenta edifícios escolhidos aleatoriamente ao longo do percurso, os portões dos estacionamentos se abriram 26 vezes (veja o quadro abaixo). Com um procedimento-padrão, foi moleza conseguir o sinal verde dos porteiros. Embicava o carro (sem insulfilm escuro no vidro) na porta da garagem em velocidade moderada – e não lentamente, como se estivesse na dúvida sobre o endereço –, buzinava e piscava os faróis, para tentar reproduzir a típica atitude do morador impaciente, e acendia a luz dentro do veículo, fazendo sinal positivo com o polegar em direção à cabine. Acesso liberado. Simples assim.
Na maioria das investidas bem-sucedidas, não houve diálogo com a portaria. A Vila Madalena foi o primeiro bairro visitado. Seis de dez edifícios deram sinal verde. Na Rua Arandu, no Brooklin Novo, uma cena quase cômica, não fosse o risco que um comportamento displicente desses pode representar. Sem sair do prédio, um funcionário chegou perto do carro para identificar quem estava ao volante.
– O senhor vai aonde?
– Eu vou à casa do Juan!
– O senhor sabe o número do apartamento?
– Não sei.
Ele pediu um minuto e se afastou para tentar descobrir em qual andar morava nosso personagem fictício. Após dois minutos de espera, comecei a buzinar. O porteiro reapareceu, pediu desculpas e autorizou a abertura da garagem.
Na Rua Pamplona, na Bela Vista, a história do Juan também colou.
– Boa noite, eu vou à casa do Juan!
– Qual é o nome do morador?
– Juan!
– Qual apartamento?
– Não sei, acho que fica no quarto andar.
Ele se volta para dentro da cabine e, segundos depois, pergunta:
– Senhor, aqui só tem Jean!
– Exatamente, Jean!
– Ah, sim! Eu vou ligar para ele avisando.
– Não, não! Primeiro abra o portão para eu estacionar porque estou cansado. Depois você liga para o Jean. Ele já autorizou parar na garagem.
– Tudo bem, senhor.
Em todas as situações, logo que os portões eram abertos, eu engatava a ré e saía sem dar explicações. Por catorze vezes, isso não aconteceu porque o acesso foi negado. Nos Jardins, por exemplo, as cinco tentativas foram frustradas. Uma delas ocorreu no L’Essence, um dos endereços mais valorizados de São Paulo, com apartamentos avaliados em 13 milhões de reais. Ao chegar à entrada, tive o carro cercado por três seguranças. Em poucos segundos, recebi a resposta:
– Senhor, não há nenhum Juan por aqui.
Pedi desculpas pelo engano e segui em frente. Nos prédios com seguranças contratados de empresas especializadas, a tarefa mostrou-se inviável. Essas equipes costumam deixar um profissional de prontidão na calçada para abordar de perto os visitantes.
No sábado (10), o porteiro de um condomínio nos Jardins foi rendido ao abandonar a guarita para checar se havia uma falha no alarme, que sinalizava uma invasão nos fundos do prédio. Dez integrantes de uma quadrilha entraram em nove dos 22 apartamentos. "Não adianta pagar caro por uma parafernália eletrônica se a pessoa responsável por monitorar esses equipamentos não tem um treinamento adequado", afirma o delegado Edison de Santi, titular da 2ª Delegacia do Patrimônio do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). No mesmo dia, um assalto a um condomínio de casas na região de Pedra Branca, na Zona Norte, reuniu trinta homens armados e dez veículos. Com fuzis e metralhadoras, eles renderam os seguranças. "Identificamos três quadrilhas em atividade praticando roubos a residências, mas não são especializadas só nesse tipo de crime", diz Santi.
Não faltam orientações para evitar que assaltantes entrem nos edifícios residenciais de São Paulo pela porta da frente. "A cabine de segurança deve ser blindada e quem está dentro não deve sair durante seu turno em hipótese alguma", explica o consultor Evandro Pamplona Vaz, diretor de uma empresa de gerenciamento de risco. Os moradores também precisam colaborar. "Muitas vezes, os porteiros são repreendidos quando não reconhecem de imediato um morador", diz o consultor Hugo Tisaka. Quando o pior já aconteceu, também é importante seguir as dicas dos especialistas. Não reagir é a mais clássica de todas.
Na semana seguinte àquela em que dois condomínios sofreram arrastões de bandidos, testamos a segurança de quarenta edifícios em diversos bairros paulistanos. O resultado é preocupante: 65% deles escancararam seus portões sem nenhuma cerimônia
Por Fabio Brisolla
Diante de um prédio equipado com cabine de segurança, câmeras voltadas para os acessos principais e luzes acionadas por sensores de movimento, parece improvável a entrada de uma pessoa não autorizada. Não é bem assim. A bordo de um veículo de luxo cedido pela revista Quatro Rodas, da Editora Abril, rodei 166 quilômetros por sete bairros da cidade, nas noites de segunda (12) e terça (13). De quarenta edifícios escolhidos aleatoriamente ao longo do percurso, os portões dos estacionamentos se abriram 26 vezes (veja o quadro abaixo). Com um procedimento-padrão, foi moleza conseguir o sinal verde dos porteiros. Embicava o carro (sem insulfilm escuro no vidro) na porta da garagem em velocidade moderada – e não lentamente, como se estivesse na dúvida sobre o endereço –, buzinava e piscava os faróis, para tentar reproduzir a típica atitude do morador impaciente, e acendia a luz dentro do veículo, fazendo sinal positivo com o polegar em direção à cabine. Acesso liberado. Simples assim.
Na maioria das investidas bem-sucedidas, não houve diálogo com a portaria. A Vila Madalena foi o primeiro bairro visitado. Seis de dez edifícios deram sinal verde. Na Rua Arandu, no Brooklin Novo, uma cena quase cômica, não fosse o risco que um comportamento displicente desses pode representar. Sem sair do prédio, um funcionário chegou perto do carro para identificar quem estava ao volante.
– O senhor vai aonde?
– Eu vou à casa do Juan!
– O senhor sabe o número do apartamento?
– Não sei.
Ele pediu um minuto e se afastou para tentar descobrir em qual andar morava nosso personagem fictício. Após dois minutos de espera, comecei a buzinar. O porteiro reapareceu, pediu desculpas e autorizou a abertura da garagem.
Na Rua Pamplona, na Bela Vista, a história do Juan também colou.
– Boa noite, eu vou à casa do Juan!
– Qual é o nome do morador?
– Juan!
– Qual apartamento?
– Não sei, acho que fica no quarto andar.
Ele se volta para dentro da cabine e, segundos depois, pergunta:
– Senhor, aqui só tem Jean!
– Exatamente, Jean!
– Ah, sim! Eu vou ligar para ele avisando.
– Não, não! Primeiro abra o portão para eu estacionar porque estou cansado. Depois você liga para o Jean. Ele já autorizou parar na garagem.
– Tudo bem, senhor.
Em todas as situações, logo que os portões eram abertos, eu engatava a ré e saía sem dar explicações. Por catorze vezes, isso não aconteceu porque o acesso foi negado. Nos Jardins, por exemplo, as cinco tentativas foram frustradas. Uma delas ocorreu no L’Essence, um dos endereços mais valorizados de São Paulo, com apartamentos avaliados em 13 milhões de reais. Ao chegar à entrada, tive o carro cercado por três seguranças. Em poucos segundos, recebi a resposta:
– Senhor, não há nenhum Juan por aqui.
Pedi desculpas pelo engano e segui em frente. Nos prédios com seguranças contratados de empresas especializadas, a tarefa mostrou-se inviável. Essas equipes costumam deixar um profissional de prontidão na calçada para abordar de perto os visitantes.
No sábado (10), o porteiro de um condomínio nos Jardins foi rendido ao abandonar a guarita para checar se havia uma falha no alarme, que sinalizava uma invasão nos fundos do prédio. Dez integrantes de uma quadrilha entraram em nove dos 22 apartamentos. "Não adianta pagar caro por uma parafernália eletrônica se a pessoa responsável por monitorar esses equipamentos não tem um treinamento adequado", afirma o delegado Edison de Santi, titular da 2ª Delegacia do Patrimônio do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). No mesmo dia, um assalto a um condomínio de casas na região de Pedra Branca, na Zona Norte, reuniu trinta homens armados e dez veículos. Com fuzis e metralhadoras, eles renderam os seguranças. "Identificamos três quadrilhas em atividade praticando roubos a residências, mas não são especializadas só nesse tipo de crime", diz Santi.
Não faltam orientações para evitar que assaltantes entrem nos edifícios residenciais de São Paulo pela porta da frente. "A cabine de segurança deve ser blindada e quem está dentro não deve sair durante seu turno em hipótese alguma", explica o consultor Evandro Pamplona Vaz, diretor de uma empresa de gerenciamento de risco. Os moradores também precisam colaborar. "Muitas vezes, os porteiros são repreendidos quando não reconhecem de imediato um morador", diz o consultor Hugo Tisaka. Quando o pior já aconteceu, também é importante seguir as dicas dos especialistas. Não reagir é a mais clássica de todas.