22 agosto 2008

Com onda de assaltos, Morumbi está sob toque de recolher informal

Moradores do bairro estão acuados pela ação freqüente de ladrões
Marici Capitelli
Toque de recolher informal, tiros nas ruas, moradores baleados, média de uma casa assaltada a cada dois dias, taxistas que não entram no bairro, população refém do medo. O cenário não é de periferia, mas do Morumbi. Esse cenário fez com que a Secretaria da Segurança Pública se reunisse, em caráter de emergência, com os moradores. Procurada pela reportagem, a pasta disse que está levantando as ocorrências no bairro e irá se pronunciar hoje.
Dos 6,4 quilômetros quadrados do distrito do Morumbi, os focos de violência estão concentrados em duas áreas. Uma delas fica entre a Rua Clementine Brenne e a Avenida Giovanni Gronchi, onde estimam-se 40 assaltos neste ano - boa parte sem registro de queixa. Só em maio, teriam sido 22.Quatro roubos e uma tentativa frustrada de assalto ocorreram numa mesma rua. Um morador foi morto a um quarteirão dali, e outro escapou de um disparo - mas a marca da bala ainda pode ser vista no muro.
A casa do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, também foi assaltada. As ruas não foram identificadas a pedido dos moradores.Desde sexta-feira, uma viatura da PM está nessa área. É o resultado da reunião com a secretaria. "Depois disso, não tivemos ocorrência, mas sabemos que essa viatura não vai ficar lá para sempre", reclama um morador. Eles querem que a Polícia Civil investigue os assaltos, para desmantelar as quadrilhas, e faça blitze em motoqueiros que trafegam na região."Estamos vivendo sob o toque de recolher, já que todo mundo tem medo de andar nas ruas e de chegar tarde. Com os bandidos circulando pelo bairro, nos sentimos acuados e mudamos a rotina", diz um empresário. "Passeava mais com os meus cachorros e agora tenho evitado fazê-lo", afirma um morador. "Aqui não é mais o Morumbi, onde vivo há 29 anos. Isso aqui é o Rio de Janeiro. Me fale qual a diferença entre nós e eles? Estamos reféns", define uma moradora.A síndica de um condomínio diz que os moradores discutem a contratação de segurança armada. "Quando as pessoas querem isso, mesmo sabendo dos riscos dessa atitude, é porque estão se sentindo muito acuadas." Há poucos dias, os assaltantes colocaram uma escada em um muro e destruíram a iluminação recém-instalada.Outro ponto crítico é o Real Parque, onde predominam grandes edifícios. Os moradores estão sendo rendidos quando entram e saem da garagem. Os assaltantes, segundo eles, são motoqueiros. Em um dos condomínios, com guarita à prova de bala, está a marca de um tiro, disparado no mês passado.O Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Ação Local Real Parque distribuiu cerca de 200 cartas aos edifícios, descrevendo as últimas ocorrências. A idéia é criar um plano de segurança integrado. Moradores do Morumbi e do Real Parque dizem que, nos últimos três meses, os assaltos - que ocorriam de maneira esporádica desde o início do ano - se intensificaram.Os moradores contam que, em conversas informais, a polícia diz que o comando do crime organizado que "gerencia" as quatro favelas da região foi mudado. "Antes, a determinação era não assaltar nem mexer conosco. Sempre convivemos em paz com as comunidades (Paraisópolis, Jardim Colombo e Porto Seguro), e nossos empregados moram nelas. Agora, o novo comando determinou os assaltos, para fortalecer o tráfico", diz um morador.Segundo a PM, há 13 viaturas para fazer a ronda em uma área de 17 km², que engloba o Morumbi, sendo que 6 delas fazem ronda escolar. A Polícia Civil não soube informar quantos crimes aconteceram no bairro.OUSADIASão casas que valem, em média, R$ 800 mil, mas algumas ultrapassam R$ 1 milhão. Na frente delas, além dos vigias de rua, empresas de segurança encostam seus carros nos portões para proteger a entrada e saída dos moradores. Mas nada disso tem impedido a ação dos bandidos.Em um dos assaltos, bandidos renderam o guarda de rua, tiraram suas roupas e o colocaram no porta-malas de um veículo. De manhã, quando os funcionários chegaram para trabalhar, o ladrão, com o uniforme do vigilante, saiu da guarita e os rendeu. O bando levou jóias, objetos de arte e bebidas.